quarta-feira, 20 de junho de 2007

APICULTURA: PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO NO ESTADO DO PARÁ


Mariana Menezes Vanzin
Adm. Agronegócios
Pós-Graduanda em Gestão Ambiental NUMA/UFPA
Ivete Texeira da Silva
Engª. Agrônoma, D. Sc
Instituto de Estudos Superiores da Amazônia - IESAM

RESUMO:

A pesquisa procurou analisar a importância da cadeia produtiva do mel e a potencialidade da atividade apícola no Estado do Pará. Os resultados obtidos revelam uma alavancagem na área, advinda dos baixos custos da produção. O mercado mostra uma realidade para o desenvolvimento de agricultores familiares de cinco municípios vizinhos de Belém do Pará, ocasionando a inserção de empregos e a geração de renda. Identificou-se ainda, a participação dos pequenos produtores rurais em parceria com o SEBRAE, em processos de profissionalização com o uso de tecnologias de produção apropriadas ao ecossistema amazônico, assegurando elevados índices de produtividade. Uma região, que possui uma vegetação ideal para o desenvolvimento da Apicultura e um grande apoio do Governo, para o beneficiamento e industrialização do mel paraense. Havendo uma grande necessidade na indústria farmacêutica, para a manipulação de compostos provenientes de medicinas naturais, apresentando funções intestinais, fortalecendo os músculos e o coração, estimulando a atividade mental, prevenindo gripes, rouquidões e resfriados. Os dados primários foram coletados por meio de entrevistas diretas com pesquisadores da EMBRAPA, bem como, consultas bibliográficas, internet e periódicos.

PALAVRAS – CHAVES:
Rentabilidade, Produção, Comercialização, Agricultura Familiar.

1. HISTÓRICO DO MEL
Pesquisas arqueológicas revelam que as abelhas produziam e estocavam o mel, a 20 milhões de anos antes do surgimento do homem na Terra.
Apesar de os egípcios serem considerados os pioneiros na criação de abelhas, a palavra colméia vem do grego, pois os gregos colocavam seus enxames em recipientes com forma de sino feitos de palha trançada chamada de colmo.
A extração do mel é uma atividade exercida pelo homem desde a pré-história, sendo retirado dos enxames por vários séculos de uma forma extrativista e predatória, ocasionando danos ao meio ambiente. Há, aproximadamente, 2.400 anos a.C., os egípcios começaram a colocar as abelhas em potes de barro. A retirada do mel ainda era muito similar à "caçada" primitiva, quando os enxames eram localizados eram em locais de difícil acesso e nessa verdadeira "caçada ao mel" os enxames morriam ou fugiam.
A Apicultura surgiu pela necessidade do homem produzir mel sem causar danos ambientais, já que quando não existia essa atividade, o meio em se obter o mel era matando as abelhas. Hoje, no entanto é possível não causar prejuízo as abelhas, através da instalação de colméias racionais dentro do enxame e manejá-las para que se tenha maior produtividade.

2. INTRODUÇÃO
A Apicultura é uma atividade considerada de grande importância, para o desenvolvimento da agricultura familiar, pois apresenta uma alternativa de ocupação e renda para o homem do campo. Sendo uma atividade de fácil manutenção e baixos custos iniciais se comparada a outras atividades do Agronegócios.
Hoje o Brasil ocupa o 6° lugar, entre os maiores produtores de mel do mundo, demonstrando portanto, o grande potencial apícola (flora e clima) ainda não explorado, não perdendo de vista grande possibilidade de incremento na área. A média histórica considerada é de um pouco menos de 20 quilos de mel por colméia por ano. Uma pesquisa informal, realizada no grupo de discussão da Apacame, em 2003, revelou uma produtividade média de 22,3 kg/colméia no ano de 2002, em 37 apiários de diversas regiões do país. É considerado um produto de fácil exploração, bem conhecido e por isso, com grande possibilidade de escoação da produção.
A demanda decorre das finalidades deste produto, isto é, além de poder ser utilizado como um suplemento alimentar, pode ser comercializado para fins terapêuticos. A margem dos preços alcançada é considerada fator de revelável importância para o sucesso das transações comerciais.
A atividade apícola, não exige muito tempo para a obtenção de resultados e nem muitas sofisticações em termos tecnológicos, dependendo de um manejo adequado e das condições da flora da região.
Segundo VILELA (2000), usando tecnologia suficiente, recomendada na produção e comercialização, espera-se alta rentabilidade nesta atividade exercida.

3. METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a realização deste artigo, foi filtração de dados primários, obtidos através de entrevistas diretas com o pesquisador da EMBRAPA-PA, Giorgio Venturiers, que trabalha diretamente com a manipulação do mel.
Bem como, foram realizadas pesquisas em sites na Internet, entre eles o site do Governo do Estado do Pará, da EMBRAPA, do SEBRAE, da UFPA, e da SERPROD, e ainda pesquisas em periódicos em instituições de ensino e pesquisa.

4. PRODUÇÃO DO MEL NO ESTADO DO PARÁ
A produção de mel no Estado do Pará, estimulada pela Apicultura, está proporcionado o desenvolvimento de agricultores familiares de cinco municípios vizinhos de Belém do Pará, que investiram nesta atividade como alternativa de subsistência, capaz de gerar trabalho e renda a pequenos produtores. Focando em resultados, resolveram estar se profissionalizando na atividade, e aos poucos começam a obter os primeiros resultados da sua produção, com uma produtividade bem superior a esperada, 40 quilos por colméia ao ano, transpondo as médias tradicionalmente alcançadas com produção de países como o Argentina (35 quilos por colméia ao ano), México (30 quilos por colméia ao ano).
Em 2004, em parceria com o SEBRAE, produtores rurais, pescadores, trabalhadores autônomos e até de meleiros (pessoas que extraem o mel queimando colméias selvagens e eliminando os enxames), deram a largada a profissionalização. Em 2005, as metas já estavam remodeladas, as organizações dos apicultores já se voltavam para outro objetivo, a formalização de uma associação, surgindo, portanto, a Associação dos Criadores de Abelhas da Amazônia (Ascam).
Atualmente, esta associação fundada Ascam, congrega 150 apicultores, em cinco municípios, de Santa Izabel do Pará, Santo Antônio do Tauá, São Caetano de Odivelas, Vigia e Colares. Sendo considerado surpreendente a produção alcançada em 2005, 24 toneladas, volume totalmente comercializado. "O desafio para 2006 é criar a infra-estrutura necessária para que os apicultores ampliem a produção e a comercialização do mel", explica a gestora do projeto Apicultura na Região de Belém pelo SEBRAE no Pará, Ana Maria Queiroz Ribeiro da Silva.
O governo do Estado, prefeituras dos cinco municípios atendidos, Banco do Brasil, Banco da Amazônia, Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA), entre outros, Sebrae e apicultores, vão articular a construção de uma 'casa de mel' em cada uma das cidades atendidas pelo projeto. Segundo Ana Maria, cada unidade de beneficiamento deve custar R$ 75 mil. "Daí a importância de articular parcerias, já que os apicultores não teriam recursos para investir numa unidade desse porte", assinala.
E a introdução destas "casas de mel" no mercado é considerada bastante satisfatória, segundo o presidente da Ascam, James Jainarine Sewnarine, a construção das casas de mel vai aumentar a possibilidade do mel da associação chegar com mais facilidade ao mercado. Isso porque o produto passa a ser manipulado dentro dos padrões exigidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que são os mesmos exigidos internacionalmente. "Hoje, fazemos tudo numa unidade móvel, que atende às exigências, mas não comporta todo o volume", explica.
Segundo James, a perspectiva é que a associação atinja, ao fim do ano apícola de 2006, uma produção em torno de 60 toneladas de mel. Por isso, a construção das casas de mel será fundamental, já que apenas a unidade móvel não será suficiente para dar vazão a esse volume.
"O Sebrae tem nos apoiado muito para que isso aconteça", afirma. "Tem sido um grande parceiro nosso", acrescenta.
ü Linha de financiamento
Outra iniciativa em curso e que contribuirá para elevar a produção de mel na região de Belém é uma linha de financiamento de R$ 5 mil, que está sendo negociada com Banco do Brasil e Banco da Amazônia, para que os apicultores possam elevar o número de colméias. Hoje, segundo informa a gestora do projeto pelo SEBRAE no Pará, a média é de cinco colméias por produtor. "Isso deve possibilitar que a média suba para 20 colméias por produtor", informa.
ü Capacitação e governança
Na avaliação do apicultor cearense e consultor do projeto Apicultura na Região de Belém, João Arquimedes Bastos Pereira, os apicultores paraenses só atingiram o nível de produtividade de 40 quilos por colméia em menos de dois anos de trabalho em função de duas questões: capacitação intensiva e governança em torno do projeto. "O mérito está na forma como tudo foi estruturado, com ampla participação dos apicultores e das instituições que apóiam", avalia.
Acostumado com as características do Ceará, um dos principais estados produtores de mel do País, Arquimedes diz que encontrou condições propícias para a atividade na região de Belém. Isso porque pela biodiversidade local é possível obter vários tipos de mel, em função das floradas - são pelo menos dez diferentes - e do regime de chuvas. "O que precisava era uma visão mais empreendedora da atividade, com introdução de técnicas de manejo de colméias, e isso está acontecendo", informa.
Para Arquimedes, 2006 "será o ano do mel" na região de Belém. Segundo ele, a região tem condições de elevar ainda mais a produtividade por colméia durante o ano, atingindo mais de 50 quilos. "Claro que as outras etapas do projeto, com a construção das casas de mel e até de um entreposto de comercialização da associação vai contribuir para isso. Mas a qualidade do mel, já comprovada em testes de laboratório, é que será o grande diferencial da atividade", avalia.
Arquimedes diz que em pouco tempo a região não será apenas produtora de mel, mas também de subprodutos como pólen e de própolis. "Falei que 2006 será o ano do mel na região e afirmo que 2007 será o do pólen e própolis", aponta.

4.1 –VEGETAÇÃO
Num clima quente, por exemplo, a necessidade de refrigerar a colméia comanda a busca de água. Em flora das grandes, a necessidade por pólen e néctar e o espaço de armazenamento disponível orientam a sua colheita.
A flora apícola disponível, provavelmente, é o fator decisivo. Há relatos de produtores com médias de 50-60 kg/colméia/ano, ou até mais. Descartados possíveis exageros e folclores, é muito provável que sejam de apicultores que migram as suas caixas uma ou mais vezes por ano ou têm à sua disposição um pasto apícola excepcional.

4.2 – ESCOLHA DAS ABELHAS
No momento, a criação de africanizadas é a mais indicada para manejo no Brasil em decorrência do clima. O argumento decisivo é a rusticidade muito maior das africanizadas, que podem ser criadas sem nenhum medicamento, o que não ocorre com as européias, em quase todo o resto do mundo.
4.2.1 Africanizadas:
· São menos sujeitas a doenças
· Comportamento higiênico mais apurado, os parasitas como a varroa que infernizam as européias, não costumam causar maiores prejuízos às africanizadas. É verdade que o clima quente da maior parte do Brasil é desfavorável a varroa.
· É possível manter um apiário de africanizadas mais natural, sem o uso de medicações, ao contrário das colméias européias, que normalmente dependem de antibióticos e acaricidas para se manter produtivas.
4.2.2 Européias:
· São muito menos agressivas.
· Têm menor propensão a enxamear.
· Têm menor propensão a abandonar o ninho.
· Pilham menos.
· Quando um quadro é manipulado, comportam-se mais calmamente, facilitando muito o manejo em geral e a localização da rainha, especificamente.
· Vivem mais.
· Muitos países que usam apenas as européias têm produtividade média que chegam a três ou quatro vezes a do Brasil.

4.3 -COLMÉIA RACIONAL
A colméia dita racional é uma caixa, ou um conjunto de caixas empilháveis, dispostas sobre um fundo (ou chão) e cobertas por uma tampa (ou teto). É uma superfície, geralmente de madeira, com pequenas paredes nas laterais e atrás, que servem de apoio ao ninho. A tampa é uma superfície, geralmente de madeira, com paredes em duas laterais, que ajudam no seu encaixe sobre a última caixa da colméia ou sobre a entretampa, isto é, uma peça que serve para o fechamento superior da colméia, mas não fica exposta, e sim protegida pela tampa, que nesse caso, funciona também como um telhado. As colméias são pintadas em cores claras que ajudam a refletir as radiações do Sol. Esse é o modelo moderno básico, mas inúmeros outros são possíveis.
Há muitos anos existe no mercado internacional colméias feitas de material sintético, como o poliuretano. Talvez com a adoção de melhores tecnologias e materiais, a colméia sintética acabe se tornando uma boa alternativa. Mais raramente, ouve-se falar em outros materiais, como isopor ou concreto, mas nenhum deles com resultados importantes. Na apicultura orgânica, somente caixas de madeira são permitidas.
· Preço
Uma colméia completa, com fundo, ninho, duas melgueiras, quadros aramados e tampa custa aproximadamente o mesmo que 10 kg de mel (no varejo). Um ninho com quadros custa por volta de 4 kg de mel, e uma melgueira, uns 3 kg de mel.

4.3.1 - MANUTENÇÃO DAS COLMÉIAS
Em uma manutenção de rotina são avaliados diversas variáveis, como:
· Se o enxame está bem desenvolvido para época
· Quanto a suficiência do mel até a próxima revisão
· Sobre a questão da compatibilidade do tamanho do alvado com a temperatura média da estação e o processo de movimentação das abelhas
· Quanto a presença e postura da rainha
· Sobre a existência de realeiras
· Quanto ao desenvolvimento das crias
· Se há espaço suficiente para aumentar a postura
· Se há espaço suficiente para armazenar mais mel
· Se existe algum sinal de doenças nas colméias, ataque de formigas, traças ou outros animais
· Se há a existência de favos velhos ou quadros danificados
· Se existe sinal de umidade ou calor excessivo nas colméias

· Procedimentos
Primeiro ponha fumaça e abra a colméia, como mencionado acima. Se houver melgueiras, avalie o seu conteúdo retirando um ou dois quadros. Com o tempo, bastará dar uma olhada superficial e suspendê-la, para estimar bem a quantidade de mel armazenado. Verifique se há postura na melgueira. Faça o mesmo com todas as melgueiras e vá retirando-as até chegar ao ninho, usando um pouco fumaça sempre que necessário. Se houver mel desoperculado, use a fumaça lentamente, dirigindo-a apenas para o topo dos quadros. Se estiver ventando, direcione a fumaça para o lado da colméia que estiver recebendo o vento, diretamente na parede. A fumaça vai subir e apenas lamber a parte superior dos quadros.
No ninho, retire cada um dos quadros e examine-os Com o tempo, você será capaz de selecionar apenas alguns quadros bem representativos da situação do ninho, abreviando esse trabalho. No início, ajuda bastante remover o quadro mais vazio de uma das extremidades e pô-lo de lado, para ampliar o espaço de trabalho. Em seguida, faça as verificações e correções necessárias, recoloque todos os quadros, de preferência com a mesma orientação frente-fundo original, e recoloque as melgueiras, usando um pouco de fumaça para esmagar o mínimo de abelhas possível.

4.3.2 - APIÁRIOS
Há diversas variáveis envolvidas nessa escolha: segurança, disponibilidade de flores e de água, presença de outros apiários. Geralmente são iniciados com cinco a dez colméias é uma recomendação freqüente na literatura, mas não leve isso a sério demais. Você pode perfeitamente iniciar com uma única colméia, aprender bastante com ela, colher seu primeiro mel. Depois, se desejar, e na medida das suas possibilidades, você pode ir ampliando o apiário. A vantagem de ter mais de uma colméia é que uma delas pode salvar a outra em caso de necessidade (unindo-as, por exemplo).
Como primeiro critério, adote a sua capacidade de manejo. Estime quantas colméias você pode manter bem, considerando o seu tempo disponível e a sua disposição. Não esqueça que você pode ser um excelente apicultor de uma colméia ou um péssimo apicultor de 200. Na dúvida, opte sempre pela qualidade.
· Manejo
Apriori é agilizado nos apiários o processo de produção das abelhas, para que elas fabriquem mel mais rápido e com mais qualidade. É feito um trabalho de indução. Depois de extraído das colméias (em caixas de ninhos tamanho padrão) nos apiários, o processo de industrialização começa na sala de extração do mel.
As abelhas constroem seus favos exatamente dentro dos quadros pela razão da indução de um trabalho já começado, o apicultor coloca uma lâmina de cera alveolada, que funciona como um início do favo. Quando não são induzidas, ou quando sobra algum espaço relativamente grande numa caixa, as abelhas constroem favos fora dos quadros. Quando o apicultor esquece quadros sem cera alveolada, elas constroem favos atravessados, cada um passando por dentro de vários.
Dez quadros são a capacidade normal, tanto das melgueiras quanto dos ninhos, e os espaçadores Hoffmann dos quadros são projetados para manter a distância de 35 mm entre os centros de dois favos contíguos. São laterais de quadros mais largos nas partes superiores do que nas inferiores. O seu formato diminui a área propolisada entre dois quadros contíguos, facilitando a remoção do quadro. Ao mesmo tempo, o estreitamento curto e arredondado dos espaçadores facilita a inserção do quadro entre os demais.
Na hora do manejo, as ferramentas essenciais são o fumegador, o formão e o espanador. As colméias não sejam abertas com temperatura ambiente muito baixa, da ordem de 10 ºC ou menos. Caso contrário, muitas crias poderão morrer.

Dica aos apicultores:
Muitas vezes o apicultor, no processo de manejo, põe fumaça nas abelhas, para evitar que abelhas operárias saiam da colméia. Outra utilidade muito importante da fumaça é a condução das abelhas. No entanto este procedimento pode estressar as abelhas provocando o abandono de toda a colméia. Sempre será preferível usar a menor quantidade possível de fumaça numa manipulação. E ainda, pode alterar o sabor do mel.

Dica aos apicultores:
É evitado por alguns apicultores a utilização da tela excluidora, utilizada para criar condições melhores às abelhas, um dos fatos é a questão da demora no manejo, o outro se dá pela improdutividade das operárias que, se negam a construir favos e depositar mel acima da tela, quando colocadas acima do mel já depositados nas melgueiras, poderão ocasionar a morte de zangões.

4.4 - PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO
O processo de industrialização começa na sala de extração do mel. Os quadros de cera alveolada são retirados das colméias, vão para máquina desoperculadora (para que o mel possa sair dos quadros de favos, e em seguida, para a centrifuga, por 15 minutos. Daí, o mel passa para os decantadores, onde fica por até 72 horas para uma espécie de filtragem. Na decantação, mel e resíduos de cera são divididos. A cera segue para a área de beneficiamento e o mel é enlatado, vai para o deposito de matéria-prima e para a indústria. Depois disso, seguem-se outros processos, que incluem o tanque de lavagem, mesa de secagem, empacotamento, envazadora eletrônica e por fim, a máquina rotuladora, que vai identificar o produto nas prateleiras dos supermercados e casa comerciais.

4.4.1 Desoperculação
O método manual é com faca e garfo. A faca deve ser do tipo "serrote de pão", com um serrilhado bem largo e afiado. O quadro é mantido quase na vertical, apoiado numa lateral pequena, e a faca é passada logo abaixo da cobertura, de forma a remover as tampas sem prejudicar demais os alvéolos, para que o favo possa ser reaproveitado. Essa operação pode ser feita numa mesa desoperculadora ou mesmo sobre um recipiente largo, como uma bacia, que recolha a cera retirada e o mel que escorre. Quando a temperatura ambiente está alta demais, porém, a cera dos favos pode amolecer, e a faca não a cortará direito.
Alguns apicultores usam uma faca especial de desoperculação que é aquecida eletricamente, o que ajuda a cortar a cera. Outros usam uma faca metálica comum aquecida em água quente. Nesse caso, é preciso secá-la antes de cortar o favo, para não adicionar água ao mel. As duas técnicas têm críticos ruidosos: a faca aquecida eletricamente elevaria demais a temperatura do mel com que entrasse em contato. A faca aquecida em água quente esfria rapidamente e ainda aumenta a sujeira do ambiente, distribuindo de pingos de mel e água por todo lado. Normalmente, o serrote de pão funciona tão bem, que não consigo descobrir nenhuma vantagem em usar essas geringonças.
Como a faca normalmente não é suficiente para fazer um trabalho completo (a não ser com favos gordos e perfeitos), o passo seguinte é o acabamento. Para isso, o quadro deve deitado (com as faces na horizontal), apoiado na mesa desoperculadora ou num recipiente que recolha o mel que escorre. Utiliza-se então o garfo desoperculador nas duas faces, introduzido-o por baixo da cobertura e levantado com cuidado para não ferir muito os alvéolos.
Há algumas outras ferramentas de desoperculação, como um rolete cheio de pontas, mas não são muito populares. Há também desoperculadores motorizados, com escovas ou lâminas que removem os opérculos, mas eles normalmente se destinam a grandes produtores ou entrepostos
· Preço
Uma pequena, para 20 quadros, em inox, custa aproximadamente o mesmo que 40 kg de mel (no varejo). A esse preço talvez precise ser adicionado o de uma torneira de corte rápido, dependendo do modelo da mesa e do esquema de trabalho do apicultor na extração. Uma torneira dessas, em latão, custa cerca de 5 kg, e, em inox, cerca de 13 kg.

4.4.2 Centrífuga
Os quadros são colocados numa centrífuga, na posição vertical. Eles ficam apoiados no "cesto" da centrífuga, que gira junto com o eixo. Inicialmente, a velocidade da centrífuga deve ser pequena, pois os favos estão pesados de mel e podem romper-se com facilidade. No decorrer da centrifugação, o mel vai sendo extraído, os favos vão ficando mais leves e a velocidade pode ser aumentada gradualmente, até que os respingos de mel na parede interna da centrífuga cessem.
Em uma centrífuga radial, o processo é exatamente assim, mas numa centrífuga facial ele é muito mais crítico e envolve pelo menos uma fase a mais, a reversão dos quadros. Os nomes se referem à posição em que os quadros são colocados no cesto. Na centrífuga radial, eles ficam alinhados com o raio, ou seja, quando vistos de cima, os quadros lembram fatias de um bolo redondo. Na facial, os favos ficam com uma face voltada para a parede da centrífuga e a outra para o eixo. Na posição facial, a centrifugação só consegue remover o mel da face que está voltada para a parede, e por isso o quadro deve ser virado, pelo menos uma vez, para que o resto do mel seja extraído.
Na centrífuga radial, a reversão não precisa ser feita. Embora nela haja também uma face privilegiada de cada favo, a inclinação natural dos alvéolos garante que ambas as faces serão igualmente esgotadas. A centrífuga facial requer um cuidado maior na operação, pois os favos sofrem uma força perpendicular sobre sua face, que é muito frágil.
· Preço
Tomando o preço do mel no varejo como parâmetro, uma centrífuga radial manual em inox para 8 quadros custa cerca de 50 kg, para 12 quadros, uns 65 kg, e para 16 quadros, uns 75 kg.
Centrífugas motorizadas em inox para 12 quadros custam cerca de 160 kg, e para 20 quadros, uns 230 kg, aproximadamente.

4.4.3 Decantadores
Primeiro, o mel deve ser passado por uma peneira fina. A seguir, o ideal é deixá-lo decantando por alguns dias e só depois embalá-lo. Naturalmente, a segunda etapa só é possível com decantador.
É um tanque com tampa e torneira. O mel é deixado nele por alguns dias (uma semana, por exemplo), para que as impurezas que sobraram da filtragem se depositem no fundo ou subam à superfície (junto com as bolhas de ar). Depois desse período, o mel é passado para as embalagens através da torneira, que deve ser de corte rápido. Como essa torneira se localiza um pouco acima do fundo, o mel que passa por ela é o mais puro possível, exceto bem no final, é claro.
· Preço
Um para 100 kg custa cerca de 40 kg de mel, mais a torneira.

4.4.4 Armazenamento
Em recipientes próprios para produtos alimentícios, hermeticamente fechados. Em relação à temperatura de armazenagem, o ideal é que ela esteja abaixo de 11 ºC, pois nessa faixa a probabilidade de fermentação é baixa e a formação de HMF é muito lenta, assim como a destruição das enzimas presentes no mel.
A faixa ideal de temperatura para a cristalização do mel é de 10 a 18 ºC, especialmente, 14 ºC.
A faixa ideal de temperatura para a fermentação do mel é de 11 a 21 ºC.
A partir de 21 ºC a produção de HMF se acelera, junto com o escurecimento do mel. Cada 10 ºC a mais de temperatura aumentam a velocidade de produção de HMF em cerca de 4,5 vezes. Por exemplo, um aumento que leva 100 dias para ocorrer a 30 ºC, leva apenas 20 dias a 40 ºC, 4 dias a 50 ºC e 1 dia a 60 ºC [CRA83].

4.5 – EMPREGO MEDICINAL
Há muita pesquisa sobre as propriedades terapêuticas do mel, e alguns indícios mais concretos de que ele pode auxiliar no tratamento de úlceras, ferimentos e queimaduras, em razão da sua atividade antimicrobiana. Algumas substâncias antioxidantes também estão presentes no mel, e alguns estudos sugerem que ele pode trazer alguns benefícios à saúde pela proteção das células ao ataque dos chamados radicais livres [SCH03]. As conclusões ainda não são definitivas e esse respeito, mas alguns resultados são realmente promissores. De resto, há muito mais folclore em relação ao emprego medicinal do mel do que evidências obtidas em estudos científicos. O mel possui algumas vitaminas e diversos minerais.
O mel é fundamentalmente uma mistura de carboidratos, e como tal deve ser tratado pelo diabético. Não há evidências de que o mel seja mais ou menos seguro para os diabéticos, e o seu eventual consumo deve ser combinado com o médico e considerado com a mesma cautela dispensada aos demais carboidratos.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As abelhas do gênero Apis são as mais conhecidas e difundidas, pelo fato de serem espécies sociais e produzirem mel. Além da retirada do mel a Apicultura pode proporcionar o próprio aproveitamento de enxames e crias e possível extrair do mel e a obtenção de produtos, como: pólen, cera, própolis, polinização, geléia real e apitoxina.

· O pólen é rico em proteínas, lipídios, minerais e vitaminas em função disso, é bastante utilizado como suplemento alimentar.
· A cera é consumida pelas indústrias de cosméticos, medicamentos, velas, indústrias têxtil, fabricação de polidores e vernizes.
· A polinização é um meio de transferência do pólen que necessita de um agente transmissor para a formação do fruto.
· A geléia real é constituída de água, carboidratos, proteínas, lipídios e vitaminas. Pode ser comercializada in natura e as indústrias de cosméticos e medicamentos utilizam na composição de outros produtos.
· A apitoxina é o veneno das abelhas, constituído de proteínas, lipídios e constituintes aromáticos. Esse produto e pouco comercializado em razão de sua natureza tóxica, devendo ser aproveito apenas pelas farmácias de manipulação e indústrias de processamento químico.
Em relação à produção do mel na Região Amazônica, o Pará é considerado o maior produtor de mel e nas últimas décadas, a apicultura é uma das atividades que mais cresceram no Estado, foram 400 toneladas de mel produzidas em 2003; 500 toneladas em 2004 e a partir de 2005 estimava-se a produção de 600 toneladas.
Segundo Silvancide Guedes, no período de 2001 à 2003, a elevação da produção chegou a 233%. A Federação das Associações de Apicultura no Pará (FAPIC), de acordo com dados levantados existem 17 associações que congregam 2.000 apicultores. Entretanto este número ainda é considerado baixo. Se comparado com a existência de 40 mil apicultores no Piauí, Estado que se destaca na produção do mel na Região Nordeste, segundo ele: "Isso é só 10% do potencial que o Pará tem para a apicultura.". E ainda: "Atividade apícola tem um mercado muito promissor. Houve durante cinco anos um bom consumo de mel como adoçante e energético. Hoje os principais consumidores de mel são as farmácias homeopáticas".
Como forma de fortalecimento do setor o Governador Simão Jatene, assinou no dia 4 de Abril de 2005, o decreto n° 1.597, que difere o pagamento do ICMS, incidentes nas remessas de matéria-prima da apicultura, para o beneficiamento e industrialização no Pará. Ficando também isento de ICMS as saídas internas de colméias padronizadas, de enxames e de rainhas selecionadas, com o certificado de inspeção sanitária Estadual e Federal.
Com o Decreto, foi concedido desconto de 95%, calculado sobre o débito do ICMS, relativo a saídas interestaduais de mel e derivados. Esse decreto é muita importância para os apicultores e para o Estado incentivando o consumo local e criando negócios de micro e pequenas empresas. Depois disso o potencial apícola s´s tende a crescer.
Na Região Norte, com o destaque para o Pará, encontra-se vinculada à pequena produção e apresenta processo de profissionalização com o uso de tecnologias de produção apropriadas ao ecossistema amazônico, assegurando elevados índices de produtividade.
No Estado, cerca de 80% da produção está concentrada no nordeste paraense. Ourém e São João de Pirabas são alguns dos municípios produtores de mel nesta região. Ao todo, o Pará é responsável por 30% do que é produzido na Amazônia. Belém é o maior consumidor da região Norte, com cerca de 30 toneladas/mês.
Sobre a comercialização do mel, em Belém 90% vem do Nordeste devido o preço. Por uma infra-estrutura boa, o custo da produção é menor. O mel produzido no Pará custa para as industrias de R$ 2,50 a R$ 3,00 o litro. Já o produto que vem do Nordeste chega ao máximo de R$ 2,00.
Apesar do crescimento verificado, o potencial apícola do Estado ainda é pouco explorado e comercialização acontece basicamente no mercado informal (feiras), através de atravessadores, e nos centros urbanos próximos aos locais de produção, por meio de venda direta ao consumidor. (in Morais, G: Pesquisa de Mercado sobre o Consumo de Mel na Região Metropolitana de Belém, 2004). No entanto, ainda há mercados inexplorados. Nesse sentido, o Governo do estado, através da SAGRI, assinou convênio com a Fapic no valor de R$ 13 mil, visando estimular a cadeia produtiva de mel no Pará, desde a produção até a comercialização.

5.1 DICAS AOS EMPREENDEDORES
Se não tiver experiência anterior, antes de adquirir qualquer coisa de apicultura, procure um bom curso. Depois de fazê-lo, terá condições muito melhores de avaliar como deverá ser o seu início na apicultura, ou, se for o caso, até desistir da idéia.
Um bom curso é aquele que combina teoria e prática de forma complementar. A teoria deve ser dada em vários dias, pois o assunto é vasto e impossível de ser minimamente assimilado se ensinado em um ou dois dias apenas. Da mesma forma, a prática deve ser feita em várias vezes, para que os alunos possam enfrentar diversas situações diferentes com a necessária tranqüilidade.
Procurar bases teóricas seja através de bibliografias, Internet, artigos, enfim, e fazer alguns dias de prática com algum apicultor. Mas ainda é recomendável a primeira opção, em que a prática é conduzida pelo mesmo instrutor teórico, o que dá uma maior solidez ao aprendizado.
Além do curso básico tradicional, há outros específicos que podem ser do seu interesse. Antes de fazê-los, porém, procure acumular um pouco de experiência e conhecimento, para direcionar melhor os objetivos, os quais deseja alcançar.

5.2 ESTUDO DE CASO
Segundo a Fapic, atualmente existem seis empresas que trabalham com o mel no Pará. A de Santana, é uma delas. Localizada em Ourém, a Ouremmel atua há 15 anos no setor. Hoje, a empresa possui 700 colméias distribuídas em 20 apiários, cada uma delas com 70 mil abelhas. A produtividade é de 50 quilos de mel por colméia no período de safra, colhidos de 15 em 15 dias. Cada colméia produz três vezes ao ano, tendo uma colheita média de 10 litros de mel. O litro é comercializado a R$14, 00, o que daria um faturamento de R$ 140,00 por colméia.
Com sete funcionários, no total, a Ouremmel já fabrica mais de dez produtos e investe na qualidade para seguir tendências e oferecer um produto de qualidade. “É preciso que a maioria dos paraenses veja o mel como alimento e aprenda a consumir com mais regularidade. Nossa empresa é toda paraense e, agora, a partir do decreto, vamos trabalhar com fôlego novo e alcançar aquele consumidor que ainda não conhecia o nosso produto", comemora Santana.
Ele acredita que agora o seu negocio poderá crescer mais. "Agora temos condições de pensar alto e crescer no mercado", finaliza o empresário que também é apicultor no município.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados demonstram que a produção de mel é uma atividade muito rentável, incorrendo em poucos custos, mostrando-se como uma boa opção para a geração de renda no campo, como foi mostrado o caso do empreendedor Raimundo Santana, que com a sabedoria da verticalização e inovação da agricultura familiar, soube ampliar o seu negócio, aumentando sua renda e criando novos empregos e novas oportunidades.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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